Papel do Laboratório Clínico na Promoção da Saúde

Iniciativa inédita coloca diversidade de gênero em debate no 53º CBPC/ML

- 26/09/2019

A SBPC/ML em parceria com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e com o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), divulgou o posicionamento: “Medicina Diagnóstica inclusiva: cuidando dos pacientes transgênero”. O documento tem como objetivo para orientar os profissionais e corporações atuantes no setor através de recomendações. 

A iniciativa inédita foi liderada por Luisane Vieira, patologista clínica e membro da SBPC/ML. Ela também foi responsável por abrir a mesa redonda sobre diversidade de gênero, que aconteceu no penúltimo dia do 53º CBPC/ML. 

A especialista iniciou sua fala explicando os conceitos básicos de gênero. Ela reiterou que o tema requer constante aprendizado e até citou a troca de experiências com pessoas trans que participaram de talk-show no espaço #ImportantePrevenir, pouco antes da mesa-redonda. O histórico científico das pessoas transgênero também foi citado. “Não podemos esquecer que a questão já foi considerada transtorno psiquiátrico”, lamentou Luisane Vieira. 

O processo de transição possui três esferas diferentes: a social, a hormonal e a cirúrgica. Fica a critério da pessoa trans escolher se quer se submeter às intervenções e quais delas. “As equipes que acompanham esses pacientes devem ser multiprofissionais e multidisciplinares. É necessário ter centros especializados”, reforçou a coordenadora do posicionamento. 

As necessidades de adequação dos laboratórios clínicos para atender as pessoas trans são muitas. Foram citadas pela especialista a possibilidade de uso do nome social, o treinamento de pessoal, a flexibilidade dos sistemas de informática, os intervalos de referência específicos, as implicações do uso de hormônios, o compartilhamento de dados e até mesmo os banheiros de gênero neutro. 

“É fundamental ter empatia para lidar com essa questão que não é nova e não vai desaparecer. O posicionamento é um ponto de partida. Usem, sigam as recomendações, vamos juntos otimizar o documento para atender os pacientes da melhor maneira possível”, pediu a coordenadora da iniciativa. 

A endocrinologista pela Universidade Federal de São Paulo, Maria Izabel Chiamolera, que representa a SBEM na iniciativa, reforçou que o posicionamento é uma tentativa de melhorar os laudos para essa população, que nos Estados Unidos chega a 1,4 milhões de pessoas. 

A especialista apresentou dados de uma pesquisa que ouviu pessoas trans a respeito da discriminação na busca do serviço de saúde. Segundo o estudo, 20% dos entrevistados afirmam ter sofrido discriminação nesta busca e a maioria nem chega a buscar atendimento com medo do preconceito.  “É preciso escutar mais essa população”, reiterou. 

Os custos altos do tratamento de pessoas trans que optam pelo processo de transição hormonal foi lembrado, além da necessidade de monitoramento. Ela alertou para e avaliação criteriosa e o cuidado com investigações desnecessárias para o rastreamento de doenças em decorrência da hormonização cruzada. 

Por último, o Dr. Victor Comeira, advogado, foi responsável por expor os aspectos legais que envolvem a questão. Ele recomendou que a atenção à esse grupo de pessoas começa na escolha do vocabulário. “Alguns termos são naturalmente excludentes. Recomendo, por exemplo, utilizar o termo acompanhamento ou assistência, ao invés de tratamento. Lembrando que transgênero não é uma patologia, logo, não há necessidade de ser tratada, assim como a gravidez, precisa ser monitorada”, comparou. Segundo ele “a discriminação não é natural, é construída. Não podemos usar desculpas castradoras e limitadoras”. 


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